Psicanálise sem tabus, como o próprio nome diz, é um espaço para discutir as questões do desejo, do amor, da vida, sem receio de ferir ou contrariar o estabelecido socialmente. Se você acredita que a moral, a ética e a própria Psicanálise mudam, puxe sua cadeira imaginária e sinta-se em casa.
Analistas e intelectuais sisudos adoram dizer que a felicidade e a liberdade não existem, que são utopias, enquanto bebem e comem do bom e do melhor e usufruem de uma vida cheia de holofotes e possibilidades de todas as naturezas.
Sim, felicidade com gosto de chocolate todos os dias não é possível. Liberdade irrestrita é um mito. Estamos sujeitos às circunstâncias. Estamos sujeitos às nossas próprias limitações e acima de tudo, à liberdade alheia que, em muitos casos, escolhe restringir a nossa liberdade.
Primeiramente, preciso fazer uma distinção entre felicidade e alegria. Já fiz esta distinção em outras oportunidades, mas uso a minha liberdade agora para fazê-la novamente. É totalmente possível se definir como alguém feliz no pior dia da sua vida, no dia em que todos decidiram te dizer não e virar as costas para você. É totalmente possível se definir como alguém feliz no dia de uma grande perda, de uma grande decepção.
O que chamamos de felicidade, para mim, na realidade é alegria. Uma pessoa infeliz também vive dias alegres. Uma pessoa infeliz pode rir e se divertir em uma festa ou diante de uma boa notícia. O feliz pode chorar e sofrer sem perder a consciência de que tem uma boa vida e de que está apenas passando por um mau momento ou por um momento triste.
Alegria é entusiasmo, glitter, fogos de artifício. Alegria tem gosto de espumante saboreado na entrada do novo ano. Felicidade é a consciência de que estamos fazendo as melhores escolhas e de que dentro da nossa liberdade limitada, estamos vivendo a melhor vida que nos é possível.
Quase sempre a alegria vem de fora, é proporcionada pela ação do outro. A felicidade é um processo mais nosso, mais interno, menos eufórico.
Quando alguém busca uma análise, jamais deveria se conformar em ser menos infeliz. Foi assim que eu procurei a minha. Não pensava em felicidade, pois não acreditava que ela seria possível para mim. Queria apenas parar de sofrer e de preocupar quem eu mais amava e quem mais me amava.
Porém, no decorrer do processo, vi que queria e que podia mais: optei pela felicidade. E mesmo nos dias mais sombrios, mesmo quando me deparo com as piores dificuldades e com as pessoas mais convictas da inevitabilidade da infelicidade, lá no fundo, continuo sabendo que a vida e que uma análise podem nos fornecer muito mais.
Sílvia Marques é psicanalista, professora, escritora e atriz. Apaixonada por dias de chuva, música alta, muito café, vinho barato, filmes e pessoas profundas, conversas insanas.