Psicanálise sem tabus, como o próprio nome diz, é um espaço para discutir as questões do desejo, do amor, da vida, sem receio de ferir ou contrariar o estabelecido socialmente. Se você acredita que a moral, a ética e a própria Psicanálise mudam, puxe sua cadeira imaginária e sinta-se em casa.
Sim, você leu corretamente o título do post. Toda aquela conversa de neutralidade que envolve a figura do analista virou ou está virando embalagem de miojo vencido , jogado no canto da prateleira da despensa.
Em uma época de relações líquidas e ultra narcísicas, em que ninguém mais escuta, em que as pessoas simplesmente esperam a hora de falar, está muito difícil encontrar alguém com tempo e disposição para acolher a demanda do outro.
Se o amigo lamenta, ele rouba a energia. Se ele conta algo bom, ele é exibido. Se ele fala do seu trabalho, nada a ver. As pessoas querem estar juntas, mas sem verdadeiramente se comunicarem. Nos deparamos com flashes de monólogos que nada tem a ver com uma troca afetiva.
Cabe ao analista ser esta pessoa que escuta. Mais do que isso. Cabe ao analista ser esta pessoa que escuta com afetividade e que intervém com empatia.
O analista, atualmente, é muito mais do que um profissional que cuida da nossa saúde mental. Ele é alguém que participa da nossa afetividade, que nos mostra que não estamos sozinhos no mundo, que podemos contar com ele fora do horário da sessão.
Sim, o analista está se tornando um amigo de luxo. Alguém que realmente se importa com a gente e que deseja o nosso sucesso acima de tudo.
Como analista, eu já vivo esta realidade. Me interesso cada vez mais por um tipo específico de analisando: o analisando capaz de despertar a minha real afetividade. O analisando que chamaria para tomar um café em minha casa. O analisando que me faz esquecer de que estou atendendo. Que me faz sentir que estou simplesmente vivendo ao falar com ele.
Acredito totalmente no valor da contratransferência. Mas esta contratransferência deve conter sentimentos empáticos. Ela deve estar alicerçada na mais pura confiança e parceria, a ponto de um analisando perguntar sinceramente preocupado para o seu analista: Você está bem hoje?
Sílvia Marques é psicanalista, professora, escritora e atriz. Apaixonada por dias de chuva, música alta, muito café, vinho barato, filmes e pessoas profundas, conversas insanas.
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